quarta-feira, 7 de maio de 2008

RELEMBRANDO SHANE

Mergulhado em seu intrigante estilo, em seu Classismo que representa, em elevado grau, suma poética desenvolvida por George Stevens em cada um dos seus filmes, SHANE, baseado na novela homônima de Jack Schaefer (no Brasil recebeu o incrível título de Os Brutos Também Amam, 1953), é um drama que se inicia no exame das fabulosas estórias do "Western", segue produzindo uma imagem melancólica do fastígio e remate imaginação infantil (veja o personagem Joey Starrett, interpretado por Brandon de Wilde), continua fazendo uma análise sobre as bases econômicas e sociais do Oeste mericano da época para resolver-se finalmente numa narrativa cheia de símbolos e enigmas que retratam esse fascinante anti-herói, Shane, na excelente interpretação de Alan Ladd.

O filme extasia desde o começo um intróito luminoso e cheio de júbilo, pleno de verdor e encantamento, espaço paradisíaco magnificante fotografado em tecnicolor. Com a sensibilidade de um mestre - um mestre poeta - Stevens transmite ao telespectador a situação e o método existencialista dos personagens essenciais e a eminência das lutas e/ou episódios complicados e patéticos que virão em seguida. Mas, sobretudo permanece na lembrança do espectador o modo como o cineasta com o emprego da teleobjetiva, fixa a solidão da paisagem: a humildade do povoado, a ruazinha, o diminuto saloon, detalhes que dão idéia do perfeccionista diretor de Um Lugar ao Sol (A Place in the Sun), este, por sinal, denominado por Charles Chaplin, quando de sua estréia em 1951, "O melhor filme jamais saído de Hollyood". Já que falamos sobre a belíssima cena que inaugura o filme, mencionamos, para encerrar estas notas, a sua conclusão: ao contrário do início, o desnlance de SHANE se realiza num ambiente quase turvo, entre reflexos morrediços, a atmosfera medonhamente escura, a noite aterradora cobrindo o enregelado vácuo de um espaço e tempo infinitos. Espaço e tempo que formam a estrutura de uma obra ímpar, único "Western" dirigido por George Stevens, mas que reúne a grandeza e a permanência encontáveis nos mais altos momentos de um especialista do gênero, o irlandês John Ford.

(Texto de João Charlie Fernandes, publicado no zine alternativo do Sebo Vermelho).

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