terça-feira, 17 de maio de 2011

PLAYBOY ENTREVISTA JOHN WAYNE

Playboy entrevista JOHN WAYNE: uma conversa franca com o supercaubói, supermachão e superpatriota americano sobre índios, negros, comunistas, a guerra do Vietnã, perversões e o sexo nos filmes de hoje.


Em maio de 1971, quando concedeu esta entrevista a PLAYBOY, Jonh Wayne podia gabar-se de ser considerado o protótipo da virilidade americana, estilo Hollywood, nos mais de 200 filmes que tinha feito de 1930 até então. Nesses filmes, quase todos de ação, ele derrotou os japoneses, coreanos e alemães em Iwo Jima e na Normandia; varreu tribos indígenas inteiras do mapa; protegeu incontáveis diligencias; garantiu o Forte Apache e limpou de facínoras inúmeras cidades do Oeste – tudo isso sem derrota, exceto, naturalmente, a do Álamo, filme que ele dirigiu em que os americanos “apanhavam” dos mexicanos, no Novo México.

Em 41 anos de trabalho, havia rendido 400 milhões de dólares aos estúdios e era ele próprio, um dos astros mais ricos do cinema – mas nem por isso um dos mais cobertos de glórias. Estas lhe vieram tarde, bem depois do vendaval, em 1970, quando ganhou finalmente o seu Oscar de melhor ator pelo papel do xerife Rooster Cogburn em Bravura Indômita. O então presidente Richard Nixon aprovou a indicação: “Acho John Wayne um ator muito bom”.

Nixon foi um dos muitos políticos do partido Republicano que ele apoiou, embora eventualmente pudesse se aliar a um democrata em eleições municipais. Ninguém se surpreendeu quando Wayne ousou produzir e dirigir pessoalmente Os Boinas-Verdes, o único filme favorável à guerra do Vietnã feito nos anos 60. A maior parte da população americana era contra a guerra, mas mesmo assim Wayne foi apontado, numa pesquisa do instituto Gallup, com um dos artistas mais admirados nos Estados Unidos naquela década. Quando morreu, em 1979, aos 72 anos, continuava em evidencia e com as mesmas opiniões que o estigmatizaram como um dos arquiconservadores de Hollywood.

Para entrevistar John Wayne, PLAYBOY destacou seu editor-contribuinte Richard Warren Williams á mansão de 11 quartos e oitos banheiros, defronte à baía de Newport, na Califórnia, onde o ator vivia com sua terceira mulher, de origem latina, a peruana Pilar Pallete, e três de seus sete filhos. Eis seu relato:

“Ao vivo, Wayne é ainda é ainda mais impressionante do que na tela. Com seu 1,94 e 120 quilos, ele dá impressão de que talvez pudesse mesmo ter feito aquilo tudo que fazia no cinema. Poucos diriam que ele usa peruca e, exceto pela manchas no rosto e nas mãos, aparenta menos idade do que tem. Conversamos a bordo de seu barco de 136 pés, o Wild Goose, um caça-minas da Segunda Guerra que ele converteu para passeio. Tomou quase uma garrafa d sua tequila favorita, temperada com sal e suco de limão, num copo guarnecido por gelo triturado – oriundo, segundo Wayne, de uma geleira de 1000 anos no Álasca, visitada recentemente pelo Wild Goose. Não fugiu das perguntas e, se querem saber, ele realmente, pensa daquele jeito!”



PLAYBOY – Como o senhor vê a situação atual (1971) do cinema?

JONH WAYNE – Ainda bem que não vou estar por aqui para ver o que vão fazer com ele. Os sujeitos que controlam hoje os estúdios são banqueiros e grandes jogadores da bolsa. Não entendem nada do nosso negócio. Só querem saber de dinheiro. Eles pensam assim: “Pô, aquele filme com a fulana de tal correndo pelada no parque rendeu um caminhão de dinheiro. Vamos fazer um igual, é isso que o povo quer”. Alguns desses caras me lembram putas de luxo. Por mais que eu não suportasse um ou outro dos chefões antigos – especialmente Harry Cohn, o chefão da Columbia -, eram homens interessados no futuro do cinema. Tinham integridade. Houve uma época em que se deram conta de que estavam transformando os gangsters daqueles filmes em heróis, e com isso estavam prestando um desserviço à nação. E aí, por conta própria, pararam de fazer filmes de gangsters. Não houve censura de fora. Eram homens responsáveis perante o público. Mas os executivos de hoje estão-se lixando. Fazem tudo pela bilheteria que esses filmes rendem, inclusive produzir lixo. Estão se aproveitando do fato de que ninguém quer ser chamado de careta. Estou absolutamente convencido de que, em dois ou três anos, o público estará farto desses filmes imundos.

PLAYBOY – Que espécie de filmes o senhor considera imundos?

WAYNE – Oh, Easy Rider, Midnight, Cowboy – esse tipo de coisa. Você não acha que aquele maravilhoso caso de amor entre dois homens em Midnight Cowboy, um filme sobre dois veados, se aplica à definição? Mas não me entenda mal. Quando se trata de um homem e uma mulher, acho fantástico que exista uma coisa chamada sexo. É um extra que Deus nos deu. Não vejo razão para não vejo razão para não mostrá-lo no cinema. Sexo sadio e bem sacana é uma maravilha.

PLAYBOY – Até que ponto o senhor acha que o sexo pode ser mostrado na tela?

WAYNE – Acho que dois corpos peludos e suados em primeiro plano são uma coisa de mau gosto, a menos que você use um filtro bem forte. Quando penso em tudo de maravilhoso que fizemos aqueles anos todos e vejo a merda a que chegamos, é de amargar.

PLAYBOY – O herói rebelde que o senhor fazia na tela era bem diferente dos heróis jovens de hoje, não?

WAYNE – Sem dúvida. Os meus eram rebeldes pessoais, contra a monotomia da vida, contra os status quo. Os desses garotos nem sabem contra o que se rebelam. A culpa é desses liberais, que permitem que comunistas trabalhem como professores, pervertendo a lealdade e os ideais dos nossos filhos.

PLAYBOY - É tudo culpa dos liberais?

WAYNE – Bem, eles parecem achar ótimo que os professores de seus filhos sejam comunistas. Eu é que não gostaria de ver Angela Davis inculcando doutrinas inimigas em meus garotos.

PLAYBOY – Angela Davis (ativista americana negra de esquerda, famosa nos anos 70) afirma que os que a condenam em termos ideológicos na realidade a discriminam por ser negra. O senhor concorda com isso?

WAYNE – Muitos negros estão confundindo revolta com ressentimento, e talvez com razão. Mas não é por isso que vamos de repente ficar de joelhos e entregar tudo aos negros. Acredito na supremacia branca até que os negros se eduquem para atingir a responsabilidade. Não sou a favor de conceder autoridade e posições de liderança a pessoas irresponsáveis.

PLAYBOY – Vamos mudar de assunto. Durante anos os índios tiveram um papel importante, ainda que submissos , nos seus filmes de faroeste. Qual é a sua empatia por eles?

WAYNE – Não creio que fizemos mal em tomar este grande país deles, se é isso que você quer saber. Nosso assim chamado roubo foi uma questão de sobrevivência. Havia muita gente precisando de terras, e os índios eram egoístas, tentando ficar com todas para eles.

PLAYBOY - Mas os índios por terem chegado primeiro – não eram os legítimos proprietários das terras.

WAYNE – Olhe, eu sei que houve injustiças. Se essas injustiças estão afetando os índios atualmente vivos, eles têm todo o direito de apelar para os tribunais. Mas o que aconteceu 100 anos atrás neste país não pode ser jogado sobre nós, hoje. O que aconteceu entre os avós deles e os nossos – de certo, errado ou indiferente – já faz tanto tempo que não acho que lhes devamos coisa alguma. Não sei por que o governo deveria SAR alguma coisa aos índios que não dê mim. Não se pode gemer e estrebuchar porque alguém ficou numa boa e você não ficou, como esses índios fazem. Nos todos vamos morar numa taba brevemente, se os socialistas continuarem subsidiando grupos como esses com o nosso dinheiro dos impostos.

PLAYBOY – No seu desapreço pelo socialismo, o senhor não estará esquecendo o fato de que muitos benefícios governamentais necessários e validos – como seguro social e a assistência médica gratuita – derivaram de programas essencialmente socialistas propostos na década de 30?

WAYNE – Eu sei tudo sobre isso. No fim dos anos 20, quando entrei para a universidade, eu também era socialista – e já tinha deixado de ser quando saí. O universitário típico é um garoto idealista que quer que haja bolo e sorvete para todos. Mas, à medida que envelhece e começa a pensar um pouco mais nas suas responsabilidades e nas dos outros, descobre que não é assim que as coisas funcionam – que algumas pessoas não vão carregar aquele fardo. Gostaria de saber por que alguns idiotas bem educados continuam fazendo média com esses vagabundos e preguiçosos que acham que o mundo tem obrigação de sustentá-los.

PLAYBOY – O que faz pensar que aos 63 anos, o senhor esteja qualificado para comentar as motivações da nova geração?

WAYNE - Porque já passei por um monte de coisas que os jovens de hoje estão experimentando, e acho que muitos deles me admiram porque não tenho medo de dizer que bebo meu uísque, que já fiz um monte de besteiras na vida e que sou tão imperfeito quanto eles. Porra, não sou o dono da verdade, mas me sinto na obrigação de dizer que sob o pretexto de fazer o certo, esses caras vão causar um prejuízo irreparável e estão começando uma coisa que não vão saber como terminar.

PLAYBOY – O senhor acha que há uma lacuna de credibilidade entre o noticiário sobre guerra do Vietnã e o que está acontecendo lá?

WAYNE – Para mim isso é obvio, porque eu estive lá. Você descobre que esses jovens veteranos que voltam do Vietnã têm muita coisa a dizer e que a imprensa não conta – inclusive sobre nossos próprios aliados. Esses rapazes sabem do que estão falando, porque são donos de um pedaço daquela guerra.

PLAYBOY – Muitos rapazes que “são donos de um pedaço daquela guerra” nunca quiseram ir para o Vietnã. E, segundo todas as pesquisas, o povo americano acha que nós nunca devíamos nos ter metido nela. Qual é a justificativa para a guerra do Vietnã?

WAYNE – Honestamente, acho que temos tanto de ajudar os vietnamitas quanto tivemos de ajudar os judeus na Alemanha. A única diferença é a de que não temos tido nenhuma liderança nesta guerra. Os políticos estão inibindo os militares e a coisa chegou a tal ponto que ninguém tem coragem de vir a público e dizer que devemos partir para a guerra total.

PLAYBOY – Então o senhor é favorável à guerra total?

WAYNE – acho que, se tivemos de mandar um único homem para morrer, deveríamos estar num conflito total. Se é para lutar, é para vencer. Não sou a favor da guerra total, se ela não for necessária. Mas, a agora, como país, temos de dizer o que fomos fazer lá.

PLAYBOY – Que legado o senhor espera deixar?

WAYNE - bem, você pode me chamar de piegas, mas espero que minha família e meus amigos sejam capazes de dizer que fui um sujeito honesto, gentil e razoavelmente decente.

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