sábado, 26 de março de 2011

A FALTA QUE FAZ JOHN WAYNE

A primeira coisa que salta à vista para o espectador que conhece a versão original (1969) de “Bravura Indômita” (True Grit), é, como não poderia deixar de ser, a ausência de John Wayne. Não é que a atuação do seu substituto, Jeff Bridges, seja fraca, ao contrário, está bem, mas, na inevitável comparação, o que vemos é a distância que separa o bom do excepcional.

O elenco de apoio de 1969 também era superior. No papel de Mattie Ross, a destemida mocinha e heroína da história, a substituta Hailee Steinfeld, embora não comprometa, é menos espontânea e expressiva que Kim Darby. Dois bons coadjuvantes, Robert Duvall e Dennis Hopper, são superiores aos substitutos. No novo elenco, apenas Matt Damon não perde para LaBoeuf vivido por Glen Campbell.



FIEL AO ROTEIRO


Salvo o final, totalmente diferente e desprovido do otimismo do outro filme, a atual versão seguiu a estrutura original conservando situações e personagens do roteiro de Marguerite Roberts – até diálogos foram reproduzidos literalmente. Também não alterou, a despeito de ter enfatizado a violência das sequências dramáticas, o enfoque predominante descontraído e humorístico da história.

É na direção dos irmãos Ethan e Joel Coen – dupla superprestigiada no Brasil e nos EUA – que o “Bravura Indômita” de 2010 afasta-se e se diferencia do filme dirigido por Henry Hathwauy. Em ambos, porém, é impossível deixar de reconhecer os respectivos méritos.

Enquanto Henry Hathway, autor de outros westerns bem sucedidos (“Correio do Inferno”, “Jardim do Pecado”), mantém-se fiel a linguagem dos westerns que antecederam a “Bravura Indômita”, Ethan & Joel optaram pela visualização dos filmes produzidos nas últimas décadas – o que, diga-se, era previsível e, aparentemente, inevitável.

A visualização (excelente a fotografia de Roger Deakins) é mais atraente e impactante (a produção é mais rica do que a do outro filme), mas, quando comparamos sequência por sequência, torna-se visível a superioridade de Henry Hathway sobre Ethan & Joel.

Na versão de 1969, há uma seqüência antológica: o duelo travado entre o delegado federal Rooster Cogburn (Wayne) e os quatro bandidos – ele com uma espingarda numa mão, revólver na outra, segurando as rédeas do cavalo com os dentes. Uma curiosa e inesperada reprodução dos duelos medievais realizados na arena real inglesa. A sequência de 2010 não alcançou o mesmo nível.

Maior ainda é a distância que separa as duas sequências de Martie Ross. Na anterior, ela cai no buraco, quebra o braço, fica imobilizada, sob a ameaça assustadora de uma cobra. O suspense é permanente e crescente. Na atual, ela cai, quebra a perna, fica imobilizada, mas, em vez de uma, surgem varias cobras, tornando a ameaça exagerada e artificiosa. O detalhe da cobra saindo do cadáver é impactante, mas, no conjunto, a dirigida por Hathaway é mais realista, mais longa, mais tensa.


CONCLUSÃO CRÍTICA


Quem não conhece a versão de 1969 não sentirá a falta de John Wayne. Por sorte, Jeff Bridges, que mudou do esquerdo para o direito o tapa olho preto, está bem. Comparações à parte, o filme dos irmãos Ethan & Joel Coen, que adotou o enfoque dos novos westerns, também é bom e merece ser visto.



*Texto do crítico Valério Andrade. Publicado no dia 15/02 no Jornal Tribuna do Norte - Natal/RN.

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