terça-feira, 25 de março de 2014

DOUTORA CARTWRIGHT - SETE MULHERES



Esta belíssima e sensual mulher é a doutora Cartwright. Vestida de "chinesa" para aplacar a o desejo sexual de Tunga khan - líder mongol que causa terror e mortes no Norte da China com seu bando de salteadores.

1935. U
ma Missão cristã, liderada pela preconceituosa (e aparente homossexual) religiosa norte-americana Agatha Andrews (Margaret Leighton, 1922-1976) é o cenário de toda a trama: uma mulher, vestida com roupas masculinas, cáqui, botas de couro e um chapéu estilo cowboy, montada numa mula, chega para trabalhar naquele lugar esquecido por Deus. Ela não era esperada.

Há três meses foi requisitado um médico, mas, veio uma médica. Avançadíssima e, como agravante, ateia: Dra. Cartwright (Anne Bancroft, 1931-2005). "Não alego ser dedicada ao esforço cristão. Alego apenas ser dedicada a prática da medicina", deixa claro logo no primeiro embate com a missionária-chefe.

Ela fuma o tempo todo, bebe uísque, usa cabelos muito curtos, fala palavrões e teve um caso com um homem casado - não fica claro, mas, pouco depois a médica dar uma pista de sua verdadeira razão de ter aceitado ir para o outro lado do mundo: "Este era o único emprego que me tirava dos Estados Unidos. E eu tinha motivos pessoas para querer sair". Apesar de "mundana", ela é altamente competente como profissional, prática e decidida como ser humano. Com isso ganha à admiração da secretária da Missão, a senhorita Jane Argent (Mildred Dunnock, 1901-1991) e da jovem professorinha Emma Clark (Sue Lyon), que acha atraente o corte da mulher. Ela agradece e diz: "É a grande moda na América, e é muito prático para o meu trabalho". Este diálogo de simpatia desperta ciúme e a ira da diretora daquela instituição de ensino a crianças chinesas, que oculta desejos sexuais pela ingênua mocinha, e vai usar todo o seu "veneno”, para mantê-la longe da influência “maléfica” daquela mulher de vícios abomináveis.

Entre os demais membros da Missão está senhora Florie Pether (Betty Field, 1913-1973), a histérica esposa do professor Charles Pether (Eddie Albert, 1906-2005), um fanático religioso que sonha ser pregador - ele chegar a pregar, em inglês, para um bando de crianças que não compreende sua língua - a cena é patética. Mas, naquele momento sua maior preocupação é Florie que, com mais de 40 anos, conta os últimos dias para a chegada do seu primeiro filho. É uma gravidez "de alto risco", conclui a médica preocupada. Mas a grávida leva um tempo para confiar numa mulher lhe dando assistência médica. Ela era quem mais esperava um médico. Entrou em desespero quando viu Cartwright retirar o chapéu e, num gesto feminino, balançar seus cabelos curtos. "Mas você é uma mulher"! Reclamou. A outra rebateu: "A menos que uma porção de homens tenha me enganado". E completou: "Desculpe ninguém é perfeito"!

Tunga khan (Mike Mazurki, 1907-1990) rapidamente se aproxima. Mas, adiante do estrago que o seu bando está causando naquela remota Região chinesa, chega à Missão - para desgosto e má vontade da dirigente - um grupo de religiosas, britânicas, liderado pela sensata missionária Binns (Flora Robson, 1902-1984). Com ela também chega a senhora Russell (Anna Lee, 1913-2004), de passado obscuro, e ainda uma princesa chinesa chamada Ling (Jane Chang). um pequeno grupo de refugiados chineses acompanha as européias cristãs. E estes, trazem na bagagem "a peste": cólera! A médica logo percebe e trata de isolar os que chegam dos residentes. Sua luta para salvar vidas é comovente e polêmica: ela não acredita em cura divina. Acredita na medicina e ordena que os pertences dos viajantes sejam queimado. Também mandar botar avisos no portão de entrada, evitando que outras pessoas se aproximem. Em seguida aplica vacina em massa.

Depois de uma luta desenfreada para salvar vidas, inclusive da jovem Emma, Cartwright "refugia-se" numa garrafa de uísque. A chefe da missão a reprende aconselhando-a: "Tente voltar a vida normal"! A resposta da doutora é uma revelação pessoal inesperada: "Normal... O que há de normal nessa minha vida? Levei oito anos para me tornar-me médica. Tive de desistir de tudo para estudar. E pra que? Qualquer coisa que pudesse pegar. Não há empregos importantes para as médicas. Nem abrir um consultório decente eu pude. Tive de suar pra burro nos piores hospitais. E quando finalmente permiti a mim mesma algum tempo, para o amor, acabei escolhendo o cara errado. Enfim, foi bom enquanto durou... mas ele preferiu a esposa. E o que é que isso tem de 'normal'"?

Embora tenha havido algumas mortes, quando o salteador chega àquela Missão desguarnecida - o Exército chinês debandou- encontra o local já livre da praga, mas não de contendas entre as mulheres. Ele faz prisioneiros. Escraviza e humilha a jovem princesa Ling. Mas a doutora cai em sua graça que, esperta, passa a barganhar com o bandido.

O bebê de Florence está nascendo. A médica precisa da maleta com seus equipamentos de emergência. A mulher em trabalho de parto está em choque. Seu marido acaba de ser assassinado. Dra. Cartwright chama Lean (Woody Strode, 1914-1994), um dos asseclas de Khan, e pede para ir até ele. Precisa de suas ferramentas para salvar o recém-nascido.

O líder do bando a recebe com um sorriso matreiro. Exige um resgate em troca da maleta. Num péssimo inglês ele diz: "Resgate. Você"! Diante da surpresa é a princesa prisioneira quem confirma à americana que o bandido a quer como o "resgate". Ela olha em seus olhos e vai insultá-lo de "verme", mas o dever tem pressa. Percebendo que não há outra saída, se não o de deitar com aquele "monstro" sanguinário, ela faz o "jogo" e pede outros privilégios para as mulheres.

Depois do complicado parto de Florence, a médica está pronta para a sua maior contribuição, e sacrifício: se vestir de prostituta chinesa e ceder aos caprichos do bandido. Confusa, a jovem professorinha pergunta o que está havendo, e por que a médica não vai voltar. A missionária britânica, senhorita Binns deixa claro a situação: "A doutora Cartwright fez um voto... Para preservar a vida humana".

A doutora volta em seguida com alimentos para todos. Leite para o bebê. Outros pedidos ela faz ao bandido - enquanto a diretora indignada, a chama de "rameira da Babilônia". O mais ousado é para ele deixar todos os prisioneiros partir.

Os bárbaros fazem uma noite de festa. Os homens lutam em duplas. Lean desafia seu chefe khan. Provavelmente disputando a mulher branca. Mas o líder quebra o pescoço do desafiante, para delírio dos outros bandidos. A médica vai até as outras mulheres e diz que elas podem partir. A jovem professora Emma promete jamais esquecê-la. A diretora parte insultando a doutora de "mãe de rameiras". Ela fica em pé, parada no portão, ciente do seu sacrifício. Mas está decidida a arruinar a vida do bandido.

A mulher vai ao encontro de Tunga Khan, que comete o maior erro de sua vida. A doutora Cartwright, com um lindo e sedutor sorriso, está pronta para lhe oferece a beleza e o corpo. Mas antes, bebe com ele um vinho, cuidadosamente preparado contendo cicuta. Ela o oferece dizendo: "Adeus cão"! O facínora olhar surpreso para aquela linda mulher que o levou à morte. Em seguida a moça também tomba com a sensação do "dever" cumprido.

Este belíssimo filme se chama "Sete Mulheres" (7 Women/1966). Obra-prima do mestre John Ford (1894-1973). Seu último trabalho como diretor de cinema. Nele vamos encontrar - na Dra. Cartwright e Khan - a eterna luta entre duas forças antagônicas: O bem e o mal. De um lado uma corajosa mulher salvado vidas. Do outro um covarde bandido destruindo vidas.

Doutora D. R. Cartwright é uma das mulheres mais fortes, decididas e corajosas - além de altruísta - que eu vi na tela grande. E, confesso, não é difícil de apaixonar por ela. A roteirista Janet Green (1908-1994) foi extremamente feliz na escolha das polêmicas falas da médica. Recomendo a todos que gostam de conhecer uma grande história. – fcésar









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