sábado, 23 de julho de 2011

O RIO GRANDE E OUTROS CINEMAS DE NATAL



Bate-me certa saudade ao passar por sob marquise do Cine Rio Grande, que em 1949 o senhor Otacílio Maia inaugurou, com festa e alegria por toda cidade. E o filme inaugural, “Minha Rosa Silvestre”, com Dennis Morgan, levou à nova catedral da diversão, quantidade de gente ansiosa para ver e sentir as novidades anunciadas.

Som estereofônico, cadeiras estofadas, capacidades para 1.200 pessoas, sessões continuas, nova grade semanal de filmes, maquinas novas, empreendimento ousado para uma capital que crescia, o suficiente apenas para não se tornar fraca ante às congêneres.

E a turma do Rex, que estava acostumada com a sessão das moças, às quartas-feiras e com matinais de domingo, onde na calçada se trocava e vendia Gibi e Globo Juvenil, começou a se dividir. Por um instante, quase que se abandonava o Rex. Xixico correu em socorro de sua fortaleza, e realizou remodelações na estrutura frontal e se cuidou de se importar melhores e mais filmes. E inesquecíveis, como prometia.

Já dispúnhamos do São Luiz, inaugurado na Avenida Dois, com sucesso também notável, em 1947. A entrada do Rio Grande no mercado competitivo era briga para gente grande.
O São Luiz no começo atraiu gente, principalmente aos domingos, nas matines, com filmes da Paramount, Universal, Metro e Republic. E alguns ingleses ou italianos.

Mas, o Rio Grande não estava para prosa. Era grande, bonito, moderno, num ponto estratégico, no meio do burburinho do Centro, onde florescia a nova Natal, com o esvaziamento da Ribeira, que por sua vez ainda chorava o Politeama que, ali sim, foi desmantelo. Sucesso geral em tudo. Na mudança de hábitos, na compreensão do que ocorreria no mundo do cinema, um novo entretenimento que há muito encantava o mundo, sem desprestígio algum para o teatro.

O Rio Grande, em sua pose de novo xodó, viu namoros, muita festa, comemoração. Inventou, inclusive, um fútingue aos seus pés, na saída das matines dos domingos. Os filmes terminavam geralmente entre quatro e cinco horas e como eram em sessões continua, toda rapaziada saía antes das cinco, pra flertar com mocinhas vestidas com vestidos novos e boca com batom e faces com ruge. De braços umas com as outras, a se verem deusas, indo da esquina do Sobradinho de Dr. Antonio Soares até a outra esquina, na Felipe Camarão.

O Rio Grande teve influencia na moda em Natal, como Politeama, como o Rex e o São Luiz. Como O VELHO São Pedro, que em 1934 era o velho São Pedro, que em 1934 era o melhor cinema da cidade. Mas, o Rio Grande, bravio, com filmes de caubói, policial e romances célebres, exclusividade da Warner, a grande detentora dos melhores filmes, aparecia para o deleite de todos.

Imbatível foi por dez, vinte anos.

Depois veio a TV. E lentamente o Rio Grande, ia morrendo. Até que num suspiro de luta, pariu o Rio Verde I e o II, novo modo de cinema, com no Maximo 200 lugares. Mas, nem isso. Vai se sustentando como pode. Como Deus quer. E Moacir Maia, deve estar se perguntando como agiria Errol Flynn, num momento assim.

Texto de Afrânio Amorim para o Jornal Cultural O Potiguar

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