quinta-feira, 19 de novembro de 2009

OS LINCHADORES

Com dois de seus capatazes, Theodore Carow dono de grande área de Terras na Virginia, começou uma rápida perseguição atrás de ladrões que lhe haviam roubado três cavalos na noite anterior. Tudo provava que eram chefiados por um tal de Mike Finnegan, homem mau das redondezas que já havia se envolvido em diversos tiroteios de bar. Horas depois os ladrões foram encontrados perto das montanhas quando descansavam e bebiam. Theodore se aproximou apontando a arma para Finegan, que hesitou por um segundo com os olhos enfurecidos enquanto o rancheiro mantendo a mira encostou o cano do revolver no meio do seu peito, para evitar que ele atirasse. O bandido viu que a coisa não era brincadeira, disse um palavrão, jogou o rifle no chão e pôs as duas mãos para o alto, acima da cabeça. Theodore rangeu os dentes como era seu hábito quando estava zangado e apertou o gatilho por duas vezes, sendo seu gesto seguido pelos demais homens de seu grupo, que fuzilaram os outros dois. A seguir ordenou que apanhassem os animais roubados, subiram em suas montarias retornando para o rancho.
Fatos como este se sucederam por todo velho oeste, onde os chamados foras da lei eram maioria em cidades que surgiram com o desbravamento feito pelos pioneiros e onde a autoridade constituída nem sequer existia. Para dar um paradeiro ao numero cada vez maior de assaltos a Bancos, diligências e ranchos, seguidos de assassinatos a sangue frio, na Virginia, o juiz Charles Lynch, apresentou e obteve a aprovação pelo legislativo, da chamada “Lei de Lynch” (que originou a palavra linchamento), e permitia a qualquer grupo de pessoas fazer justiça com as próprias mãos. Pensava-se assim em acabar ainda que de forma violenta, com os crimes que imperavam nessas regiões. Lynch, entretanto nada mais fez do que oficializar o assassinato de muitos inocentes condenados a forca (a pena mais comum na época), vitimas em sua maioria, apenas de vinganças e de interesses particulares.


Qualquer incauto que fosse apanhado nas redondezas de um delito, se não tivesse fortes argumentos capazes de convencer a turba enfurecida, tornava-se de imediato um forte candidato a ficar pendurado pelo pescoço na arvore mais próxima.
Começaram então a surgir por todas as cidades, uma onda de protestos, tendo a frente homens de bem, que acabaram sendo ouvidos pelos senhores congressistas que reconhecendo o erro cometido, pôs fim a essa espécie de punição, decretando a morte da Lei de Lynch.
Entretanto a exemplo do que ocorreu quando foi abolida a escravidão, muitos não se conformaram e os excessos continuaram a ser praticados, com invasões de delegacias defendidas muitas vezes apenas por um xerife, que acabava logo sendo subjugado ou morto e o preso arrancado a força de cela e linchado.
Foi aí que surgiram os grandes xerifes que escreveram seu nome na historia americana, como grandes defensores da lei, ordem e justiça, ostentando a estrela no peito e exibindo seu infalível Colt 45, de cano longo na cintura.
A população foi se acostumando com a nova ordem e os bandidos presos, levados a um julgamento justo antes de serem condenados. Centenas de filmes de Hollywood se cansaram de mostrar cenas de linchamentos, tentativas de invasões em delegacias, confrontos com xerifes e delegados e julgamentos preparados para defender interesses escusos.
Um ingrediente vital do mito que o cinema criou em torno do assunto, com uma diferença: na maioria das vezes, a verdade foi mais dramática que a lenda.

Um dos exemplares mais marcantes do cinema: “Consciências Mortas” (1943) de William Wellman, talvez tenha sido a obra sobre o assunto que mais impressionou, entre tanto outros filmes que bem ou mal trataram do assunto. Esse tema digno de William Faulkner, vinha em linha direta de um romance de Walter Van Tilburg Clark – “The Ox – Boow Incident” e narra a história de três pobres diabos acusados injustamente de ter matado um criador de gado, que são enforcados por uma população histérica e barulhenta. Poucos minutos após sua execução a inocência é provada. Mesmo que a literatura contemporânea americana lhe tivesse dado uma atualidade muito apreciada pelos leitores, o cinema, até então, não tinha ousado abordá-lo tão cruamente como fez Wellman. Desde “Bandoleiro do Eldorado” (Robin Hood of Eldorado/1936), com Warner Baxter, Ann Loring e Bruce Cabot, sabemos quanta honestidade prova esse realizado quando empreende denunciar a injustiça e os aspectos mais odiosos de uma sociedade. Atacando o tema espinhoso do linchamento mostrava a mesma coragem, descartando deliberadamente do papel recaído sobre western o pudor que fez da lei do juiz Lynch por muito tempo, um assunto tabu para Hollywood. Fazer obstáculos a realização desse “Coincidências Mortas” equivaleria a interditar um aspecto bastante comum em certas regiões do oeste no século passado.

Ainda se pode ler em vários cemitérios de Tombstone (Arizona) em grosseiras placas de madeiras, inscrições lacônicas, epitáfios sumários, advertindo o passante de que os “fulanos” ali enterrados tinham sido “legalmente enforcados”. É claro que resta definir esse “legalmente”, no sentido ambíguo, pois os linchadores agiam no nome de sua lei, mais expedita do que a lei defendia e sancionada pela justiça oficial. Em casos semelhantes esta deveria pura e simplesmente legalizar os veredictos de uma prática odiosa e cega, livremente permitida no oeste.

Alguns outros filmes que mostravam cenas de linchamentos ou tentativas e que merecem aqui serem lembrados:

“PALADINO DO ARIZONA” (The Arizona Raiders/1936), de James P. Hogan – Com Buster Crabbe, Raymond Hatton e Marsha Hunt

“O FILHO DOS DEUSES” (Brigham Young/1940), de Henry Hathaway - Tyrone Power, Linda Darnell e Dean Jagger

“NA VELHA CALIFÓRNIA” / “O CAMINHO FATAL” (In Old California/1942), de William C. McGann – Com John Wayne, Binnie Barnes e Albert Dekker

“CONSCIÊNCIAS MORTAS” (The Ox-Bow Incident/1943), de William A. Wellman – Com Henry Fonda, Dana Andrews e Mary Beth Hughes

“EMBRUTECIDO PELA VIOLÊNCIA” (Along the Great Divide/1951), de Raoul Walsh – Com Kirk Douglas, Virginia Mayo e John Agar

“VALENTES DESTEMIDOS” (Gunplay/1951), de Lesley Selander - Tim Holt, Joan Dixon e Harper Carter

“JOHNNY GUITAR” (Johnny Guitar/1954), de Nicholas Ray – Com Joan Crawford, Sterling Hayden e Mercedes McCambridge

“HOMEM SOLITÁRIO” (A Man Alone/1955), de Ray Milland- Com Ray Milland, Mary Murphy e Ward Bond

“ESTIGMA DA CRUELDADE” (The Bravados/1958), de Henry King - Com Gregory Peck, Joan Collins e Stephen Boyd

“A ÁRVORES DOS ENFORCADOS” (The Hanging Tree/1959), Delmer Daves – com Gary Cooper, Maria Schell e Karl Malden

“O HOMEM QUE LUTA SÓ” (Ride Lonesome/1959), de Budd Boetticher – Com Randolph Scott, Karen Steele e Pernell Roberts

“O MENSAGEIRO DA MORTE” (The Hangman/1959), de Michael Curtiz – Com Robert Taylor, Tina Louise e Fess Parker

“O JUIZ ENFORCADOR” (Law of the Lawless/1964), de William F. Claxton – Com Dale Robertson, Yvonne De Carlo e William Bendix

“A MARCA DA FORCA” (Hang 'Em High/1968), de Ted Post – com Clint Eastwood, Inger Stevens e Ben Johnson

“BRAVURA INDÔMITA (True Grit/1969), de Henry Hathaway – Com John Wayne, Glen Campbell e Kim Darby

NOTA: texto e pesquisa de Davlis.

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