terça-feira, 13 de outubro de 2009

CO-ESTRELANDO... YAKIMA CANUTT



Repare bem nas duas fotos acima. Trata-se de Yakima Canutt. O homem que inventou dublês em Hollywood. O que ele fez no filme No Tempo das Diligências (Stagecoach/1939) só foi repetido 42 anos depois e significou o auge do heroísmo no cinema em todos os tempos. Aliás, ele fez a cena duas vezes. Uma como um dos apaches que atacam os cavalos da carruagem, e outra dublando John Wayne saltando sobre os cavalos até chegar a dominar os da frente. Ele tinha de cair dos cavalos no meio das rodas da diligência e capturá-la novamente. Provavelnte Ford havia visto o feito em outro filme, A LEI DO GATILHO/CORAÇÃO DE AÇO (Blue Steel), quando "Yak", dublando Wayne, salvou Eleanor Hunt das patas dos cavalos de uma carroça desgovernada.


Em seu livro “Stagecoach” Edward Buscombe diz: “A tarefa mais difícil que lhe coube no filme foi a de interpretar o apache que salta sobre o cavalo condutor da primeira parelha. A uma velocidade 70 km por hora (...). A segunda parte da proeza era ainda mais difícil. Uma vez escarrapachado no cavalo condutor da primeira parelha, Canutt, como apache, é alvejado por Ringo (John Wayne). Nós os vemos cair sob os cascos dos cavalos, sendo arrastado enquanto se segura nos arreios até que, finalmente, numa única tomada que confirma a autenticidade da ação, sem trucagens, ele larga os arreios, e cavalos e diligência passam por cima dele, a câmera fazendo uma varredura para trás para mostrá-lo rolando para o lado e levantando-se devagar sobre os joelhos, como se estivesse ferido”. Só para se ter uma idéia, em 1980 o dublê Terry Leonardo tentou a proeza e o que conseguiu foram tendões e músculos destruídos. O próprio John Ford considerou as cenas tão ousadas e perigosas que mandou instalar três câmeras – para a montadora Dorothy Spencer aproveitá-las de diversos ângulos – sabendo que não podiam ser repetidas. Ali foi o primeiro encontro dos dois. E sua contribuição ao filme foi tão grande que o “mestre” o manteve por perto em muitos dos seus filmes dalí em diante.


Enos Edward Canutt nasceu a 29 de novembro de 1895, em montes do rio de serpente, perto de Colfax, Washington. Começou em rodeios. Aos 11 anos já havia ganhado prêmios. Aos 15 já era um campeão. Em 1915 fez sua estréia – como dublê - no filme Foreman of Bar Z Ranch. Dirigido e estrelado por nada menos que Tom Mix. Outro grande aventureiro. E não parou mais. Oficialmente foram 220 filmes, mas há registros que afirmam mais de 500 - com os nomes de Yakima Cannut, Yakima Cannutt, Yakima Canute, 'Yakima' Canutt, Yakina Canutt . Ora como dublê, ator, roteirista, produtor ou diretor assistente. Em "Ben-Hur" (idem, 1959); de William Wyler, por exemplo, dirigiu as cenas da corrida de quadrigas. Passou 6 meses treinando os cavalos - um por um e depois em parelhas - e os atores, para que o público apreciasse a corrida, que na tela só dura 12 minutos. Canutt também trabalhou em clássicos como "E o Vento Levou" (Gone with the Wind/1939), de Victor Fleming, George Cukor e Sam Wood, "Spartacus" (idem/1960), de Stanley Kubrick e Anthony Mann, "El Cid" (idem/1961) de Anthony Mann, entre outros.


Com John Wayne, Canutt - o primeiro da esquerda para a direita - fez 39 filmes (como ator, dublê ou como diretor da segunda unidade):
-A ÁGUIA DE PRATA (Shadow of the Eagle/1932), de Ford Beebe e B. Reeves Eason (sem cédito)
-O EXPRESSO DA AVENTURA (The Hurricane Express/1932), de J.P. McGowan e Armand Schaefer
-NA TRILHA DO TELÉGRAFO (The Telegraph Trail/1933), de Tenny Wright
-OS TRÊS MOSQUETEIROS (The Three Musketeers/1933), de Colbert Clark e Armand Schaefer
-NA PISTA DO TRAIDOR/O CAVALEIRO DO DESTINO (Riders of Destiny/1933), de Robert N. Bradbury
-JUSTIÇA SELVAGEM/NA TRILHA DA VERDADE (Sagebrush Trail/1933 ), de Armand Schaefer
-SORTE DE VERDADE (The Lucky Texan/1934), de Robert N. Bradbury
-ARMANDO O LAÇO (West of the Divide/1934), de Robert N. Bradbury
-A LEI DO GATILHO/CORAÇÃO DE AÇO (Blue Steel /1934), de Robert N. Bradbury
-O TORNEIO DA MORTE/O HOMEM DE UTAH (The Man from Utah/1934), de Robert N. Bradbury
-A FERRO E FOGO (Randy Rides Alone /1934), de Harry L. Fraser
-SOMBRA DE SANGUE (The Star Packer/1934), de Robert N. Bradbury
-PRA LÁ DA ESTRADA (The Trail Beyond/1934), de Robert N. Bradbury
-FRONTEIRAS SEM LEI (The Lawless Frontier/1934), de Robert N. Bradbury
-SOB O CÉU DO ARIZONA ('Neath the Arizona Skies/1934), de Harry L. Fraser
-TEXAS TERROR/1935, de Robert N. Bradbury
-O CAMINHO DO DESERTO (The Desert Trail/1935), de Lewis D. Collins
-A DIFÍCIL VINGANÇA (The Dawn Rider/1935), de Robert N. Bradbury
-O VALE DO PARAÍSO (Paradise Canyon/1935), de Carl Pierson
-TERRAS VIRGENS (The New Frontier/1935), de Carl Pierson
-DA DERROTA À VITÓRIA (Westward Ho/1935), de Robert N. Bradbury
-PAÍS SEM LEI (Lawless Range/1935), de Robert N. Bradbury
-O REGIME SINISTRO (The Oregon Trail/1936), de Scott Pembroke
-O REI DO RIO PECOS (King of the Pecos/1936), de Joseph Kane
-LIMPANDO A ZONA (The Lonely Trail/1936), de Joseph Kane
-TENACIDADE (Winds of the Wasteland/1936), de Mack V. Wright
-TRAIÇÕES NO DESERTO (Pals of the Saddle/1938), de George Sherman
-BANDIDOS ENCOBERTOS (Overland Stage Raiders/1938), de George Sherman
-FORÇAS E FACAS (Santa Fe Stampede /1938), de George Sherman
-NO TEMPO DAS DILIGÊNCIAS (Stagecoach/1939), de John Ford
-OS TRÊS CAMARADAS (The Night Riders/1939), de George Sherman
-BANDOLEIRO INOCENTE (Wyoming Outlaw/1939), de George Sherman
-COMANDO NEGRO (Dark Command/1940, de Raoul Walsh
-GUERRA DOS PIONEIROS/QUANDO A MULHER SE ATREVE (In Old Oklahoma/War of the Wildcats/1943), de Albert S. Rogell
-AS ABELHAS DO MAR/ROMANCE DOS SETE MARES (The Fighting Seabees/1944), de Edward Ludwig-Dakota (idem/1945), de Joseph Kane
-O ANJO E O MALVADO/O ANJO E O BANDIDO (Angel and the Badman/1947) de James Edward Grant
-ONDE COMEÇA O INFERNO (Rio Bravo/1959), de Howard Hawks
-RIO LOBO (idem/1970), de Howard Hawks.


Yakima Canutt faleceu em 24 Maio de 1986, em North Hollywood, Califórnia. Sua contribuição ao cinema é tanta que o Oscar dos dublês leva seu nome. John Ford o considerava um dos seus mais importantes colaboradores. Budd Boetticher dizia que nunca ninguém montou cavalo como ele. E John Wayne sempre disse que tudo o que sabia aprendeu com “Yak”.

Nenhum comentário: