Sobre sua história muito já se escreveu. Então decidi fazer algo diferente. Enquanto estava na cama, repassei, mentalmente, sua filmografia (os filmes que conheço, naturalmente!) e, por entre tantos e tantos bons filmes, encontrei O Homem que Matou o Facínora. "Um dos maiores westerns de todos os tempos", na opinião da crítica e dos fãs.
Todo bom cinéfilo sabe que o "Velho Oeste" teve no cinema grandes representantes. Entre eles Cimarron (idem, 1931, de Wesley Ruggles); O Cavalo de Ferro (The Iron Horse, 1924) e No Tempo das Diligências (Stagecoache, 1939), ambos do próprio Ford, Rio Vermelho (Red River, 1948, de Howard Hawks) e tantos outros. Contudo, considero este clássico do "Mestre" como uma obra-prima da História do Cinema em todos os tempos. Belíssima fotografia em preto-e-branco. No enredo diversos assuntos, de importância cidadã, são discutidos à moda do "velho caolho". De início, a violência, representada em um assalta a uma diligência. Depois, conceitos de cidadania, com o direito a educação, a importância do respeito às autoridades e instituições constituídos. E em seguida, uma aula de cidadania, democracia e civismo, com o voto de todos que ajudam a construir uma nação. E desfilam outros temas: a liberdade de expressão, a ética no jornalismo, onde o editor do jornal local, aos berros, alerta: "Sou um jornalista. Não posso ser um político. Sou a consciência do povo"! Deixando absolutamente claro que é alarmante o choque entre os dois. O lirismo também é lembrando numa cena onde John Wayne presenteia sua noiva, com uma flor que floresce num cacto, dizendo: "As rosas dos cactos estão florescendo". É uma bela e poética frase sintetizando um daqueles que talvez seja o mais melancólico dos westerns. Mas que também, deixa mais que evidente que Ford foi "O Poeta das Pradarias".
No elenco, Edmund O'Brian está soberbo como "Editor, redator, dono e faxineiro do Shinbone Star", segundo ele próprio. John Carradine, com uma aparição rápida, dá um banho de interpretação. É cômica a cena em que ele abre a convenção do seu partido dizendo: "vinha eu para esta assembléia, com um discurso previamente preparado, mas (...)". E num gesto teatral amassa o tal discurso, jogando-o no chão. Um dos assistentes, no auditório, pega o papel e não há nada escrito. E aí se percebe as tão famosas e conhecidas mentiras de políticos em suas campanhas. Destaques também para Lee Marvin, como Liberty Valance, sem dúvida um dos grandes vilões em sua carreira. A doçura de Vera Miles. A presença (paradoxalmente) quase "oculta" de Woody Strode. John Wayne e James Stewart dispensam comentários...
Eu não saberia dizer, sem nenhum exagero, quantas e quantas vezes já vi este grande trabalho cinematográfico. Quando me dá vontade, pego minha cópia, em VHS, e rodo. E confesso que cada vez fica uma lição... Lição da nossa tão sonhada cidadania...
A crítica tem toda razão ao afirmar que é "um dos maiores westerns de todos os tempos".
Obs.: texto escrito em 01.02.2008
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