quarta-feira, 9 de julho de 2008

O HOMEM QUE CRIOU LIBERTY VALANCE

Hoje eu acordei pensando o que deveria escrever para lembrar John Ford. Visto que é seu aniversário de nascimento. 113 anos, para ser exato. Embora haja quem diga que o ano foi 1894. O próprio Ford jamais moveu uma palha, para corrigir os discordantes. Ao contrário, se divertia com tudo o que escreviam sobre ele.
Sobre sua história muito já se escreveu. Então decidi fazer algo diferente. Enquanto estava na cama, repassei, mentalmente, sua filmografia (os filmes que conheço, naturalmente!) e, por entre tantos e tantos bons filmes, encontrei O Homem que Matou o Facínora. "Um dos maiores westerns de todos os tempos", na opinião da crítica e dos fãs.
Todo bom cinéfilo sabe que o "Velho Oeste" teve no cinema grandes representantes. Entre eles Cimarron (idem, 1931, de Wesley Ruggles); O Cavalo de Ferro (The Iron Horse, 1924) e No Tempo das Diligências (Stagecoache, 1939), ambos do próprio Ford, Rio Vermelho (Red River, 1948, de Howard Hawks) e tantos outros. Contudo, considero este clássico do "Mestre" como uma obra-prima da História do Cinema em todos os tempos. Belíssima fotografia em preto-e-branco. No enredo diversos assuntos, de importância cidadã, são discutidos à moda do "velho caolho". De início, a violência, representada em um assalta a uma diligência. Depois, conceitos de cidadania, com o direito a educação, a importância do respeito às autoridades e instituições constituídos. E em seguida, uma aula de cidadania, democracia e civismo, com o voto de todos que ajudam a construir uma nação. E desfilam outros temas: a liberdade de expressão, a ética no jornalismo, onde o editor do jornal local, aos berros, alerta: "Sou um jornalista. Não posso ser um político. Sou a consciência do povo"! Deixando absolutamente claro que é alarmante o choque entre os dois. O lirismo também é lembrando numa cena onde John Wayne presenteia sua noiva, com uma flor que floresce num cacto, dizendo: "As rosas dos cactos estão florescendo". É uma bela e poética frase sintetizando um daqueles que talvez seja o mais melancólico dos westerns. Mas que também, deixa mais que evidente que Ford foi "O Poeta das Pradarias".
No elenco, Edmund O'Brian está soberbo como "Editor, redator, dono e faxineiro do Shinbone Star", segundo ele próprio. John Carradine, com uma aparição rápida, dá um banho de interpretação. É cômica a cena em que ele abre a convenção do seu partido dizendo: "vinha eu para esta assembléia, com um discurso previamente preparado, mas (...)". E num gesto teatral amassa o tal discurso, jogando-o no chão. Um dos assistentes, no auditório, pega o papel e não há nada escrito. E aí se percebe as tão famosas e conhecidas mentiras de políticos em suas campanhas. Destaques também para Lee Marvin, como Liberty Valance, sem dúvida um dos grandes vilões em sua carreira. A doçura de Vera Miles. A presença (paradoxalmente) quase "oculta" de Woody Strode. John Wayne e James Stewart dispensam comentários...
Eu não saberia dizer, sem nenhum exagero, quantas e quantas vezes já vi este grande trabalho cinematográfico. Quando me dá vontade, pego minha cópia, em VHS, e rodo. E confesso que cada vez fica uma lição... Lição da nossa tão sonhada cidadania...
A crítica tem toda razão ao afirmar que é "um dos maiores westerns de todos os tempos".
Obs.: texto escrito em 01.02.2008

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