sexta-feira, 9 de maio de 2008

UM BATE-PAPO COM PALOCHA...

"SALVEM O RIO GRANDE!" O grito é de Paulo Fracinete Rocha (sem o "n", frisa!). "Palocha", como é conhecido nas rodas cinéfilas de Natal - um dos fundadores do Cine Clube Tirol, em 1961 - nos deu uma rápida entrevista nas dependências do Cantinho Sertanejo, onde visita todos os dias para tomar um café "de gratis".

F. César Barbosa: E qual é a idéia, Palocha?

PALOCHA: A idéia é transformar o que ainda resta do Cine Rio Grande em um Museu de Cinema de Natal, antes que "vire" igreja protestante; como foi o caso do Panorama e do Nordeste. Algum vereador criar uma lei tombando o prédio. Agora, um negócio sério, sem politicagem no meio, compreendeu?

FCB: E depois?

PALOCHA: Depois o pessoal que gosta de cinema entra com o material: loby card, cartazes, filmes e tudo o mais. Criar um espaço para exposições ligadas ao cinema em Natal. Como o material do seu Fã Clube de John Wayne, por exemplo. Muita gente tem alguma coisa de cinema guardado em casa, e não há local onde expor. Aí, Ninguém sabe ninguém vê.

FCB: Recentemente um Jornal publicou uma matéria com um rapaz que tem o "X" de madeira do Cine Rex, que ele resgatou dos escombros quando da demolição do prédio. Essa "peça" é importante?

PALOCHA: Claro! Coisas assim é importante; contam a nossa História de Cinema. Na casa dele, fica um material sem valor histórico. Só ele vê. Ninguém tem acesso. Quem é esse cara?

FCB: Qual é a sua ligação com o Cine Rio Grande?

PALOCHA: Apesar de ter visto filmes nos cines São Luis, Rex, Poty, São Sebastião, São Pedro, Alecrim, Panorama e Salão Paroquial - depois chamado de Olde - O Rio Grande ficava perto lá de casa. Depois era um Cinema de Arte.

FCB: Não gosto de fazer essa pergunta, mas, sempre fico curioso para saber os 10 melhores filmes de cada colega. Quais os seus?

PALOCHA: Já vi muita coisa. Gosto de muitos, mas, vou tentar ver aqui... PAIXÃO DOS FORTES (My Darling Clementaine, 1946), de John Ford, O ÚLTIMO HURRA (The Last Hurrah, 1958)de John Ford, ENCONRAÇADO POTEMKIN (Bronenosets Potymkin, 1925), de Sergei M. Eisenstein, LUZES DA CIDADE (City Lights, 1931), de Charles Chaplin, SE TODOS OS HOMENS DO MUNDO (Si Tous les Gars du Monde, 1956), de Christian-Jaque, SANGUE DE HERÓI (Fort Apache, 1948), de John Ford, ROCCO E SEUS IRMÃOS (Rocco i suoi Fratelli, 1960), Luchino Visconti, AMARCORD (idem, 1973), de Federico Fellini, MORANGOS SILVESTRES (Smultronstället, 1957), de Igmar Bergman, OS BRUTOS TAMBÉM AMAM (Shane, 1953, de George Stevens, OS ESQUECIDOS (Los Olvidados, 1950), de Luis Buñuel, MATAR OU MORRER (High Noon, 1952), de Fred Zinneman, NAPOLEON (idem, 1927), de Abel Gance, OS COMPANHEIROS (I Compagni, 1963), de Mario Monicelli, VIDAS SECAS (1963), de Nélson Pereira dos Santos. Um filme que conta a nossa História. Passou de dez, não foi ? Agora, o filme mais bonito que vi foi (levantando a mão esquerda, com o dedo em riste e fazendo uma pequena pausa!) O Balão Vermelho (Le Ballon Rouge, 1956, de Albert Lamorisse)... Belíssimo!

FCB: Nessa sua lista há três filmes de John Ford. Você é "fordiano"?

PALOCHA: Os americanos sempre tiveram grandes diretores, mas, prefiro Ford. Dos europeus eu gosto de Visconti, Fellini, Eisenstein, Bergman, Chaplin, Renoir e Buñuel. Também prefiro a Escola Europeia de Cinema. Eles "trabalham" mais as questões sociais; e com outra forma de ver as coisas. É diferente do "comércio" americano. Agora, tem as exceções, ? Como aquele de Ford (estalando os dedos para "ajudar" a lembrar)... As Vinhas da Ira (The Grapes of Wrath, 1940).

FCB: Todo cinéfilo tem seu ator preferido. Qual o seu?

PALOCHA: Eu gosto do francês Jean Gabin.

FCB: Para concluir, quantos anos de Ribeira?

PALOCHA: Cheguei para trabalhar, como tipógrafo, na Tipografia Santo Antônio, ali na Rua Frei Miguelinho, em 1952. O dono era o coronel José Bezerra de Andrade. Em 1954 Dinarte Bezerra de Andrade, seu filho, fez sociedade com Raimundo Ribeiro da Hora - já falecido. Trabalhei até agora, em 1997, quando me aposentei. Foram 45 anos no Bairro da Ribeira.
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EM TEMPO: durante minha curta conversa com Palocha, uma senhora parou para cumprimentá-lo. Seu nome é Rita Silva de Sá. E disse o seguinte:
-"Eu me lembro que no início do Rio Grande fui ver um show de Ataulfo Alves. Depois vieram outros, mas, ele foi o primeiro."
Fica o nosso registro.

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