terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

CO-ESTRELANDO... FRED KENNEDY


Hoje faz 60 anos da partida do dublê, e ator fordiano, Fred Kennedy. Foi um dos maiores e melhores dublês da História do Cinema - faroeste, em particular.

Nascido Frederick O. Kennedy, em Ainsworth, estado norte-americano de Nebraska, em 1909. Tinha 1,75 de altura e foi um "ás" em cair de um cavalo. Contudo, sua filmografia é pequena: 19 filmes como dublê. 10 filmes como ator, atuando sempre em pequenos papéis.


Em alguns filmes seu nome nem foi creditado. O primeiro em que trabalhou foi "The Old Barn Dance"/1938, de Joseph Kane. Depois, "As Aventuras de Robin Hood" (The Adventure of Robin Hood/1938), de Michael Curtiz e William Keighley.

Em 1948 atuo, como dublê, no filme "Rio Vermelho" (Red River), de Howard Hawks, a sombra de John Wayne. O "Duke" dava o maior valor as pessoas simples, mas com competência. Tratou de apresentá-lo ao mestre John Ford, que imediatamente o escalou para atuar (mesmo que num pequeno papel) no filme " Legião Invencível" (She Wore a Yellow Ribbon/1949).


Ganhando a confiança do velho diretor, em 1950 Fred Kennedy foi contratado para trabalhar nos filmes "Caravana de Bravos" (Wagon Master) e "Rio Bravo" (Rio Grande), ambos de John Ford.
Em 1952 voltou como dublê no filme "Depois do Vendaval" (The Quiet Man), também de Ford, todo rodado na Irlanda.

Ainda com John Wayne, trabalhou nos filmes "Hondo - Caminhos Ásperos" (Hondo/1954), de John Farrow, e "Rastros de Ódio" (The Searchers/1956), de John Ford.

No Segundo semestre do ano de 1958, Fred Kennedy recebeu um convite para atuar como dublê, e fazer um pequeno papel como soldado da Cavalaria Americana durante a Guerra de Secessão. O filme, "Marcha de Heróis" (The Horse Soldiers/1959).


Tudo estava indo bem com as filmagens, mas com o Natal se aproximando, o ator foi falar com o diretor do filme. Agradeceu o papel, mas explicou que gostaria de ganhar um extra para poder comprar alguns presentes para a família. Comovido, e sabendo que, como ator coadjuvante (quase um figurante), a diária era pouca, Ford acabou alterando o roteiro de John Lee Mahin e Martin Rackin, criando algumas cenas de ação envolvendo o major médico, Henry Kendall (William Holden) e a linda fazendeira sulista, Hannah Hunter (Constance Towers).

Naquele dia, 5 de dezembro de 1958, em Natchitoches, Louisiana, o dia estava ótimo para filmagens. Fred passara os últimos três dias treinando a queda - que não estava prevista originalmente no roteiro.


Tudo estava dando certo. Na hora das filmagens, William Holden fez suas cenas, com os cortes nos momentos necessários. Fred Kennedy foi preparado para fazer a queda do major - ele (Kennedy) viria a galope quando o cavalo seria atingido por um tiro, derrubando o soldado aos pés da moça (Towers), que o socorreria. Mas, ao cair, o dublê quebrou o pescoço. A atriz, sem saber da morte real, correu para ajudar o "major". De sua cadeira, com um megafone John Ford gritou, "corta!" Seu gritou ecuou junto com o de Constance Towers...

A partir dalí John Ford perdeu completamente o interesse pelo filme. John Wayne e William Holden dirigiram as cenas finas. A estréia foi em julho de 1959. Ford nem compareceu.

O filme "Marcha de Heróis" (The Horse Soldiers) passou para a história do cinema como aquele que matou Fred Kennedy. Ele estava com 49 anos.

[Chico Potengy] - Rio Grande - Fã-Clube John Wayne.

Texto de 05 de dezembro de 2018

NO SET


Durante as filmagens de "Rastros de Ódio" (The Searchers/1956), uma pausa - de Patrick Wayne e Lana Wood - para ouvir Danny Bozarge tocar sua sanfona. O músico preferido de John Ford. Isso porque o Mestre não teve o privilégio de conhecer Sivuca, Dominguinhos, Noca do Acordeom e Osvaldinho...

[Chico Potengy]



JOHN GAVIN


Ontem foi o dia 09 de fevereiro de 2019. Sexta-feira os amigos Edson Aquino (Edson II) e "dotô" Rubens, me convidaram para, no sábado (ontem), almoçar com eles no Grande Ponto. Só veio Edson. Durante o almoço ele disparou: "Você Conhece John Gavin? Ontem eu vi um filme com ele: 'Tempo para Amar e Tempo para Morrer'." (A Time to Love and A Time to Die/1958, de Douglas Sirk). Respondi que "nunca ouvi falar"... Imediatamente fui ao Google e descobri que, dos 43 filmes em que participou (entre 1956 e 1981) aquele ator norte-americano, eu vi dois: "Psicose" (Psycho/1960), de Alfred Hitchcock, onde ele contracena com a belíssima Vera Miles, e Spartacus (idem/1960), de Stanley Kubrick, onde ele vive o Personagem Júlio César. Descobri que, depois do cinema, Juan Vincent Apablasa, seu verdadeiro nome, nascido em 8 de abril de 1931, em Los Angeles, Califórnia, se tornou um diplomata, sendo embaixador americano no México. Também descobri que deixou viúva a estonteante Constance Towers - aquela mesma por quem John Wayne "perdeu o juízo" no filme "Marcha de Heróis" (The Horse Soldiers/1959), de John Ford. Mas a maior surpresa estava por vir..., sua data de falecimento: 09 de fevereiro de 2018.

[Chico Potengy]

Texto de 10 de fevereiro de 2019.






LEGENDAS


O filme desta primeira foto abaixo é Hatari, de 1962. Direção de Howard Hawks (1896-1977), estrelando por John Wayne (1907-1979) e grande elenco. Na cena que vemos, uma autoridade florestal diz ao personagem de Wayne, que "esse animal quase matou um nativo três dias atrás".

Hoje cedo começamos aqui uma discussão sobre filmes dublados. Aliás, já dei minha radical opinião. Gosto de filmes com legendas, desde criança, logo que aprendi a ler, aos 11 anos de idade. Eu ia para o cinema e me sentava na parte baixa da sala, para ver a legenda e depois a cena mais acima. Hoje, nos cinemas de shopping, as poltronas ficam de cima para baixo. Eu tenho de ver, primeiro, a cena. Lá abaixo, a legenda. ODEIO cinema de shopping!

Claro que há muitos erros de português em filmes legendados nos últimos anos. Essa cena de Hatari, por exemplo, creio que o sujeito da legenda teria escrito: "esse animal quase matou um nativo há três dias atrás"... Já li assim em muitos outros filmes... Aliás, não faz muito tempo, li a desastrosa frase: "Vamos atravessar o rio neste ponto. Têm 'menas' águas."

Aqui na minha Filmoteca Ben Johnson tenho três cópias do filme "Rio Bravo" (Rio Grande/1950), de John Ford (1894-1973), com John Wayne, Maureen O'Hara (1920-2015) e grande elenco. O filme foi, originalmente, rodado em preto e branco. Mas tenho uma cópia, colorizada, em VHS. Minha outra copia é em DVD original e outra de blu ray. Nas três há tantos erros de português, que "deurmidefenda"!


A palavra, em inglês, "Boy scout", tem duas traduções no português: uma é "batedor". A outra "escoteiro". Este último é aquele movimento criado pelo lorde inglês Robert Stephenson Smyth Baden-Powell (1857-1941). Pois o idiota, incompetente, que fez a tradução do VHS escreveu - John Wayne se dirigindo a um grupo de índios, recrutados pelo Exército dos Estados Unidos, como:

- Índios Escoteiro!

A tradução correta deveria ser: "Índios batedores".

O segundo grande erro vem na cena em que a belíssima senhora Kathleen Yorke (O'Hara), ao chegar ao Forte Stark, no Sudeste dos Estados Unidos, onde o ex-marido comanda, censura a presença do que ela chama de "incendiário", sargento Timothy Quincannon (Victor McLaglen, 1886-1959).

Para quem não conhece aquele filme, 15 anos antes, durante a Guerra de Secessão (1861-1965), a senhora York teve sua fazenda, no Sul dos Estados Unidos, completamente incendiada pelo próprio marido, então capitão, sob ordens do general Philip Sheridan (J. Carrol Naish, 1896-1973).

Foi o sargento Quincannon quem saiu com uma tocha de fogo, dentro da plantação da mulher, que tudo via, "com o pequeno 'Jeff' Yorke nos braços". Confessa ele, chorando, em outra cena, ao médico da unidade, doutor Wilkins (Chill Wills, 1902-1978).

Impávido, o tenente-coronel Kirby Yorke (Wayne), comandante daquela unidade militar, rebate o protesto da esposa, dizendo que a ação do "Sargent Major" Quincannon, foi executada com relutância.

Nessa frase de John Wayne, o sujeito que fez a legenda chamou o subalterno de "Sargento Major". O correto seria:
- A ação do "primeiro sargento" Quincannon, foi executada com relutância.

Há cerca de uns dez anos, eu assisti um tradutor juramentado, no Programa do Jô, denunciando que as empresas contratavam estagiários de cursinhos de inglês, é mole?

[Chico Potengy]


terça-feira, 30 de dezembro de 2014

CO-ESTRELANDO... WOODY STRODE


Uma linda mulher, montando um cavalo, entra na pequena cidade de madeira. Ela mede 1,74mt, boca sensual, olhos azuis cintilantes e profundos – duros ao fitar seus inimigos. Cabelos louros, em desalinhos, soltos ao vento. Está cansada, mas, seu trajeto é decisivo. Nada impede de entrar naquele miserável, esquecido e poeirento lugarejo de escaldante sol. 

Charlie Moonlight, um velho negro de visível aparência cansada, vestindo surrado terno marrom, chapéu coco na cabeça, acompanha o cavalgar da jovem e a saúda gritando: 

- “Um metro e setenta e seis! Sim, um metro e setenta e seis! Eu nunca me engano”! 

Ela responde fuzilando-o com um olhar de desprezo. Coveiro é maldito no Oeste americano. É um mau agouro para pistoleiros. Ela segue em frente seu caminho e ele voltar a trabalhar em um caixão. A experiência daquele homem o faz “medir” as pessoas com um simples olhar. A amazona é Sharon Stone. O agente funerário é Woody Strode. E este será seu último filme: “Rápida e Mortal” (The Quick and the Dead/1995), de Sam Raimi - nos créditos finais, seu nome aparece recebendo uma justíssima homenagem, do diretor, que lhe dedica o filme.



Quando ainda não havia “cotas” para negros no cinema americano, Woodrow Wilson Woolvine Strode já brilhava na tela grande. Por talento! Nasceu na cidade de Los Angeles - Califórnia - a 25 de julho de 1914. Ou seja: teria feito 100 anos, se vivo fosse. Foi uma estrela de futebol americano da UCLA – University of California, Los Angeles. O cineasta John Ford (1894-1973) o levou para fazer uma ponta, sem crédito, no seu clássico “No Tempo das Diligências (Stagecoach/1939). Em seguida o jovem trabalhou com o diretor Henry Hathaway (1898–1985) no filme “Quando Morre o Dia” (Sundown/1941). Devido seu porte atlético – e também lutador – fez vários filmes onde aparecia trocando socos. Os mais famosos são “Demetrius e os Gladiadores” (Demetrius and the Gladiators/1954, de Delmer Daves, 1904–1977), e “Spartacus” (idem/1960), de Stanley Kubrick (1928–1999). Foi ele quem desafiou Kirk Douglas numa arena (a curiosidade fica por conta de uma de suas falas: “Gladiadores não fazem amigos.” Genial!). Também atuou em filmes ambientados na África Negra e filmes de piratas. Fez vários filmes faroestes (tanto americanos como produções italianas deste tema). No filme “Os Dez Mandamentos” (The Ten Commandments/1956, de Cecil B. DeMille, 1881–1959), fez um príncipe etíope vencido por Moisés (Charlton Heston, 1923–2008).

Ainda em 1960 o mestre John Ford o escalou para ser um dos protagonistas do filme “Audazes e Malditos” (Sergeant Rutledge). A história se passa em um forte militar, no Arizona, onde Strode fez o papel Rutledge - sargento do Batalhão Negro (conhecidos como os “Soldados Búfalos”). Na caserna vive uma adolescente, filha do comandante. São amigos. Os brancos do forte não aprovam e hostilizam aquela amizade. Uma noite a mocinha sofre um estupro e em seguida, assassinada. Por sua cor, e algumas atitudes suspeitas, todos acreditam ser ele o culpado pelo crime. O tema é extremamente delicado e polêmico. Numa época em que os estados do Sul dos Estados Unidos estão vivendo em conflito com a comunidade negra daquele país. Mas Ford é Ford e, com sua habilidade e maestria, o filme é um sucesso. Strode dá um banho de interpretação.

Depois disso o ator fez grandes filmes. Dentre eles, clássicos como “Os Profissionais” (The Professionals/1966, de Richard Brooks, 1912–1992), “Era Uma Vez No Oeste” (C'era una volta il West/1969, de Sergio Leone, 1929–1989), “A Crista do Diabo” (The Deserter/1971, de Niksa Fulgosi, 1919–1996 e Burt Kennedy, 1922–2001), “Keoma (idem/1976, de Enzo G. Castellari), entre outros. Nestes filmes Strode foi cowboys, gladiadores, policiais, soldados, piratas, nativo africano. Também fez papel de índio em “Terra Bruta” (Two Rode Together/1961, de John Ford), e Shalako (idem/1968, de Edward Dmytryk, 1908–1999). Foi um guerreiro mongol em “Gengis Khan” (Genghis Khan/1965, de Henry Levin, 1909–1980), e um bandoleiro  chinês em “Sete Mulheres” (7 Women/1966, de John Ford).

Com John Wayne (1907-1979) Woody Strode trabalhou em apenas um filme: “O Homem que Matou o Facínora” (The Man Who Shot Liberty Valance/1962, de John Ford). Onde fez o papel de “Pompey” - leal auxiliar de Tom Doniphon (Wayne). Ford também lhe deu uma fala emblemática: numa aula sobre democracia responde ao professor, Ranson Stoddard (James Stewart, 1908–1997), sobre igualdade, direitos e deveres. Linda a cena!

Além de atleta, também era exímio atirador de arco e flecha – e este talento, a parte, lhe foi explorado em vários filmes. Em 1993, antes de fechar sua filmografia de 93 filmes – entre 1939 e 1995 -, com alguns trabalhos para séries de TV: Mandrake, O Mágico, Daniel Boon, Batman, Tarzan, entre outras séries, Woody Strode fez o curioso “Posse” (idem, de Mario Van Peebles), que conta a estória de cowboys negros. Aliás, ele é quem faz, em flashback, a narração do filme.

O grande ator negro faleceu, aos 80 anos, no dia 31 de dezembro de 1994, em Glendora, Califórnia. E muitos se lembraram de que foi ele quem, em 1973, durante o enterro do mestre John Ford, fez a celebre sugestão: “O mestre deveria ser enterrado em Monument Valley”... - fcésar